Editorial

Sonia Martins de Almeida Nogueira

Resumo


Ensaio: Avaliação e Politicas Públicas chega ao nº96, vol. 25, cumprindo seu projeto de oferecer elementos que favorecam a discussao academica, pretendendo gerar novos debates, e que provoquem a reflexao necessaria à abordagem das questoes da educação no Brasil e no mundo.

Continuamos a ver em nosso horizonte o mesmo cenario que se desenhou no inicio dos anos 2000, com os desafios que, embora nao tao novos ja à epoca, desde entao se apresentam a pesquisadores, professores, decisores e gestores da Educação, apesar da produção cientifica desenvolvida e das acoes politicas implementadas.

Os artigos que compoem este número sao contribuicoes de autores nacionais e internacionais, que, na construção de seus textos, abordam as questoes referidas com pluralidade de temas e de orientacoes e, assim, tambem de fundamentação teorico metodologica. Isto se revela nos dez artigos deste número, dentre os quais, particularmente, dois tratam da formação de professores, dois da inclusao educacional e tres do ensino superior, deixando aos demais textos a amplitude de aproximação de outras questoes insitas ao campo da educação.

Este número e aberto com o texto de Jucilene Dias Maranhao e Renata Meira Veras e destaca a ampliação de cursos noturnos no ensino superior, a partir do Plano de Reestruturação e Expansao das Universidades Federais- REUNI, e a consequente expansao de oportunidades para trabalhadores oriundos de camadas populares. Essa forma de ampliação do acesso e sua decorrente democratização sao abordadas buscando conhecer as percepcoes que a clientela alvo tem do ensino superior noturno na UFBA. As autoras entendem que as questoes presentes na pesquisa desenvolvida e os resultados encontrados podem servir de instrumento de reflexao sobre os cursos noturnos em plano nacional, considerado o principio da democratização do acesso.

Em seguida, Adelia Miglievich Ribeiro oferece sua contribuicao à historia da educação no Brasil, tendo como objeto os intelectuais públicos brasileiros, na perspectiva de seu projeto de nação nos anos 1950 e 1960. Seu texto se constroi a partir de sua pesquisa sobre esses intelectuais, em que revisita a UnB. O estudo se fundamenta na ideia mannheimiana de intelligentsia, que caracterizava os chamados intelectuais públicos, engajados nos projetos de modernização do pais, e identifica Darcy Ribeiro como um dos intelectuais que abracava essa “utopia”, vendo na educação e na ciencia suas forcas constitutivas.

Por sua vez, Andrea Tereza Brito Ferreira, Eliana Borges Correia de Albuquerque e Erica Windler analisam propostas de formação continuada de professores alfabetizadores, buscando entender as concepcoes de lingua e de formação em se assentam as práticas dessa formação. O estudo abrange dois municipios da area metropolitana de Recife, encontrando orientacoes diversas nas propostas de formação desenvolvidas pelos municipios alvo. Por entendermos que a questao da formação de professores permanece no spectrum das grandes questoes que desafiam o principio do direito à educação, uma vez que o exercicio desse direito demanda, entre outros aspectos, a qualidade do ensino, na qual o professor se identifica como um dos componentes de sua configuração, permitimo-nos assinalar a relevância de estudos nesse campo.

Mylene Cristina Santiago, Mônica Pereira dos Santos e Sandra Cordeiro de Melo sao as autoras que, neste número, introduzem o tema da inclusao em educação. Seu trabalho discute dados do Observatorio Nacional de Educação Especial no Estado do Rio de Janeiro- OEERJ, identificando as questoes do diagnostico de alunos, das politicas avaliativas em larga escala e das necessarias mudancas nas práticas avaliativas no cotidiano escolar. Destacam a importância do processo avaliativo na construção de propostas pedagogicas. Os dados do OEERJ, em sua amplitude e riqueza, criam o desafio para o prosseguimento de investigacoes.

A questao da avaliação tambem e abordada por Cynthia Bisinoto e Leandro S. Almeida, desta vez com um olhar de alem-mar, pois a pesquisa ocorreu em tres universidades públicas portuguesas, buscando conhecer as percepcoes dos docentes em relação à avaliação desenvolvida pelos alunos, no que concerne à qualidade do ensino oferecido. Como resultado das entrevistas realizadas sao encontradas percepcoes positivas, mas prevalecem as criticas e destaque de aspectos negativos. Coube aos autores identificar algumas perspectivas em relação ao processo de avaliação e melhoria de práticas pedagogicas.

Sonia Regina Mendes dos Santos, Belmira Oliveira Bueno e Diego Ferreira expoem a questao das politicas de formação de professores ancoradas no Plano de Acoes Articuladas- PAR, implementadas em quatro municipios da Baixada Fluminense, RJ. Seu objeto particular sao dois programas de formação continuada, o Pro Letramento e o Gestar. Suportados pelos relatorios do PAR e por entrevistas com os gestores, identificaram as formas de operacionalização e caracterizaram a colaboração entre os municipios e o governo federal. Destaca-se nos resultados a questao de que cursos de diferentes formatos, dinâmicas e tempo sao condicionadores da efetividade de tais politicas, considerada a especificidade de cada municipio.

A politica educacional se configura, em seus pressupostos, aspectos normativos e conceituais, no seio das acoes de orgaos presentes na estrutura administrativa, cujos atos permitem conhecer os pressupostos que constroem a orientação politica adotada pelo governo de um determinado ente federativo, embora em preconizada harmonia com o que se estabelece em nivel federal. O Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro e um espaco de participação na politica educacional, no campo das orientacoes e normas de organização e administração do sistema de ensino. A analise de sua trajetoria neste estudo favorece uma aproximação da questao das relacoes desse conselho com o poder executivo estadual e remete ao horizonte da politica educacional em plano nacional, consideradas as interacoes entre todos os niveis de governo. Maria Celi Chaves Vasconcelos, Nival Nunes de Almeida e Leonardo Ferreira Peixoto, em seu estudo, poem em foco as herancas e influencias dos colegiados que originaram o CEE/RJ e, atraves de pesquisa bibliografica e documental, demonstram como esse colegiado foi marcado pela descontinuidade na politica.

Alba Garcia-Barrera nos traz um outro olhar de alem-mar. Seu texto oferece uma segunda contribuicao ao estudo da inclusao, este firmado numa base conceitual, atentando para aos portadores de necessidades especiais na Espanha. Comenta que a formação que atualmente os professores recebem para a atencao à diversidade e escassa e que na titulação para o magisterio nao consta a especialidade que antes preparava os orientadores educacionais, que julga essenciais ao processo de inclusao. Seu texto relata uma pesquisa junto a professores em atividade e os resultados levam a autora a defender a formação de professores e de orientadores voltada a enfrentar a problematica de uma visao reducionista da diversidade.

A educação a distância e o tema de Gustavo Guimaraes Marchisotti, Fatima Bayma de Oliveira e Alessandro Prudencio Lukosevicious, que nele se detem num estudo exploratorio da representação social, numa perspectiva brasileira. Aplicaram a tecnica de Pierre Vergès para o tratamento dos dados. Tendo utilizado conceitos teoricos previamente apresentados para discutir educação a distância, a representação social da EAD foi comparada a esse conjunto de conceitos, para validar o conhecimento e identificar gaps de aprendizagem. As representacoes identificadas por palavras conduziram os autores a premissas que, uma vez adotadas, acreditam eles poder promover a efetividade do processo educativo que ocorre na EAD.

O ensaio de Claudio Moura Castro e Juan Carlos Navarro, na secao Pagina Aberta, último texto neste número, se propoe a discutir os pontos fortes e as fragilidades do ensino superior privado na America Latina. Destaca-se neste ensaio a assertiva de que os números sugerem que lucro e qualidade academica nao estao correlacionados. No que tange à regulação, os autores defendem a posicao de que nem liberalidade total e nem controles pesados produzem os resultados esperados e argumentam sobre a necessidade que as instituicoes pequenas tem de apoio público. Este conjunto de trabalhos que compoe este número permite perceber um fiocondutor que percorre os artigos e desenha um cenario que oferece elementos para uma reflexao, sem limites, e ate mesmo sem fronteiras, propiciadora de novos percursos das investigacoes. Sonia Martins de Almeida Nogueira Editora Associada


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DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-40362017002500001

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