Editorial

Candido Alberto da Costa Gomes

Resumo


As modificacoes da paisagem natural pelo homem nos fizeram valorizar a biodiversidade. Ela nos foi legada sem que tivessemos consciencia da sua importância, das suas repercussoes ou dos riscos da sua limitação. Do ponto de vista social, a duras penas temos aprendido que a sociodiversidade e rica, enquanto a singularidade e pobre, conforme a famosa obra de Morin (2000). A historica dominação de uns sobre outros, dos “melhores” e/ou mais “poderosos” individuos, grupos e paises, obscureceu nossas perspectivas, que comecaram a mudar com o Iluminismo e a Ilustração, no alvorecer da modernidade. Hoje a preocupação com as minorias, entre outros temas de alta relevância, indica que aprender a conviver pode levar a palma sobre aprender a dominar.

Estes principios se incorporaram à Constituicao Federal vigente sob as formas de liberdade de pesquisa, ensino, disseminação, opiniao e outras tantas. Ensaio, antes mesmo da sua promulgação, tem primado pela pluralidade de temas, fundamentos teoricos e metodologias, que prossegue no presente número. O leque aberto ao leitor e amplo, cabendo aqui informar os topicos, como um aperitivo à leitura, em vez de tratar das conclusoes. Se anunciadas desde logo, perderia a graca...

O número comeca com um tema estrategico: a gestao dos sistemas municipais de ensino e o pacto federativo, analisando a condução do Plano de Acoes Articuladas (PAR). Desde 1988, o sistema educacional brasileiro se tornou ternario e nao mais binario: Uniao, Estados e Municipios. Eliza Ferreira, da Universidade Federal do Espirito Santo, contribui para a compreensao das acoes governamentais centralizadoras e descentralizadoras.

Em prosseguimento, Fatima Takahashi e Vicente Alves, respectivamente das Secretarias Estaduais de Saúde e de Educação do Estado de Goias e da Universidade Catolica de Brasilia, apresentam pesquisa sobre um grupo duplamente vulneravel: idosos e quilombolas, preteridos frequentemente em seus direitos aos servicos públicos. Alem da contribuicao da area da saúde, em especial da interdisciplinar gerontologia, cabe lembrar que o bônus demografico no Brasil esta no fim. A partir de entao, teremos uma população cada vez mais idosa e um número ja decrescente de criancas. Como os idosos sao sujeitos de direitos, cabe cada vez mais pesquisar este grupo.

O artigo seguinte contribui para a avaliação e a metodologia quantitativa, com trabalho de Patricia Costa (da Comissao Europeia, atuante no campo da econometria e estatistica) e Maria Eugenia Ferrao (das Universidades da Beira Interior e de Lisboa, dedicada à matematica e economia aplicadas). Considerando a pluralidade como riqueza, cumpre saudar a preocupação de outros especialistas, ja que as ciencias da educação mais devem ser concebidas como uma praca, onde varias ruas desembocam, do que uma via que conduz a determinado sitio. Seu objetivo e oferecer evidencias estatisticas da complementaridade entre a Teoria Classica dos Testes e dos Modelos de Resposta ao Item. Assunto para aperfeicoamento da avaliação, em especial no Brasil.

O artigo de Maria Naires Souza e de Andre Monteiro aporta o enriquecimento de outras areas cientificas à praca acima aludida. Ambos da Universidade Federal do Ceara, associaram a biblioteconomia e ciencias da informação à estatistica e matematica aplicada, em favor do estudo da utilização de recursos tecnologicos selecionados da mesma Universidade em suas atividades academicas. Sabe-se que, de certo modo, as novas geracoes de estudantes, desde a educação basica, tem maior trânsito com as tecnologias da informação e comunicação que os seus professores, ou seja, contrariando o movimento supostamente unidirecional, uma geração mais jovem pode ensinar às outras. Assim, pode-se ate tratar de um divisor digital intergeracional. Como estarao as ciencias humanas no caso estudado?

Voltando à avaliação educacional, o artigo a seguir focaliza práticas administrativo-pedagogicas para o desempenho discente municipal na Prova Brasil. E amplamente conhecido que a escola, alem da sala de aula, onde os principais decisores sao os docentes, tambem depende da administração, sendo o diretor a principal figura, quando de fato e lider. Contrastando escolas mal e bem-sucedidas, a abordagem desperta reflexoes. Os autores, significativamente, trazem um aporte diverso à praca da educação: seus autores, Alexandre Salgado Junior e Juliana Novi, sao da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de Sao Paulo, Ribeirao Preto. Assim, tambem concorrem com a sua perspectiva para enriquecer a avaliação educacional.

Por sua vez, Andreia Costa e Antonio Bento, ambos formados e dedicados à administração educacional, da Universidade da Madeira, Portugal, nos trazem preocupacoes sobre os comportamentos de lideranca na gestao dos chamados recursos humanos escolares. Este e um dos setores mais espinhosos da administração, por lidar com pessoas humanas e situacoes muito diferentes entre si.

A seguir trata-se de um dos recentes processos de democratização da educação superior no Brasil: o Programa Universidade para Todos (ProUni). Pela sua magnitude e influencia, programas como esse precisam ser cuidadosamente avaliados. E este o alvo do contributo de Alipio Casali e Maria Jose de Mattos, ambos da area de educação, o primeiro atuante na Pontificia Universidade Catolica de Sao Paulo e a última, na Pontificia Universidade Catolica de Minas Gerais. O ProUni e necessario, porem seria suficiente para atingir os seus objetivos?

Por fim, a educação profissional e o tema da discussao de “Politicas públicas e o ensino profissional no Brasil”. O artigo resulta da parceria de Adriana de Oliveira e de Clarice Escott, da area da educação, sendo a primeira da Faculdade de Tecnologia do SENAI, em Porto Alegre, e a segunda do Instituto Federal de Educação, Ciencia e Tecnologia do Rio Grande do Sul.

Afinal, a secao Paginas Abertas oferece o trabalho de Maria Judith Lins (Universidade Federal do Rio de Janeiro) sobre a aprendizagem de etica no ensino fundamental. Com o peso historico de uma escola informativa, transmissora de conteúdos, o trabalho merece reflexão, em particular para um pais-membro da UNESCO, em principio comprometido com os quatro pilares da educação para o seculo XXI: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser (DELORS et al., 1998).

Em suma, temos uma pluralidade de temas e orientacoes, em relação à qual tambem se possui o direito democratico de concordar ou discordar, mas, antes de tudo, de exercer o dever democratico de dialogar. Esta e uma das bases do Estado democratico de Direito e de toda academia, no caminho da renovação democratica, para receber o sopro continuo que lhe permitira responder aos incessantes desafios. Mais ainda, o perfil deste número mostra tambem a riqueza proporcionada por enfoques científicos plurais, assim requeridos pela complexidade da educação. Sejam bem-vindos!

 

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SciElo

Referências


DELORS, J. et al. Educacao: um tesouro a descobrir: relatorio para a UNESCO da Comissao Internacional sobre Educacao para o Seculo XXI. Sao Paulo: Cortez; Brasilia, DF: UNESCO, 1998.

MORIN, E. Os sete saberes necessarios à educacao do futuro. Sao Paulo: Cortez; Brasilia, DF: UNESCO, 2000.




DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-403620150003000011

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